Eu
sou o senhor de mim. Pensava, quando inventava de descer montanhas abaixo,
neve voava com o movimento, vento frio me atingia a face, os braços, o corpo...
Quando via, já fugia para bem longe de onde antes estava. Gritava, mas o som
desaparecia com a alta velocidade e o rufar da brisa forte. Céu cinza, montes
irregulares, árvores quase negras, uma paisagem com a beleza de gelo. Tudo
aquilo passando em uma velocidade irreal.
Eu sentia medo de não conseguir desviar de todos os obstáculos
e de repente sair caindo e caindo... Despencaria até virar grande bola de neve,
viajaria por todos aqueles montes, capturando os outros atletas, as árvores, os
flocos... Viraríamos uma coisa só, um enorme emaranhado branco.
Imaginava todas essas possibilidades, concentrava-me,
arrepiava-me, aterrorizava-me. Distâncias pequenas que nos salvam do tombo, da
morte. Desafio que nasce lá do alto, quando olhamos para baixo e nos deixamos
levar. Duas grandes pranchas em nossos pés, a sensação de que o mundo precisa
sentir o mesmo que nós. Essa adrenalina. Somos rápidos como o vento.
Quando acaba, o coração já foi embora de nós pela boca,
deve ter ficado no meio do caminho. Mas ele logo retorna, porque também sabe
esquiar. Vai descendo lento, enquanto se acalma. E quando nos encontramos,
subimos de novo, porque não sabemos mais o que fazer. Esquiar é abraçar o vento e nunca querer se soltar dele. Por isso nós não conseguimos nos afastar
desse monte de neve. Vamos indo e indo. Descemos até não haver mais para onde
ir.
Andorra: Junto ao vento