Do grito da liberdade africano,
nasce o tambor, a música, a dança. Movem-se como quem não se importa com o que os
espera. Num passo de esperança, abraçam-se e vão junto à música: um ir-se
lento, sensual, a união que surge na pista e vai indo assim, até o fim da
melodia. Mas haverá sempre outro início nessa kizombada que poderia ser eterna.
Os angolanos dançam para viver.
Num português tão bonito, os músicos
cantam e os todos vão junto a eles, numa mistura de diversão e arte: uns
aplaudem, outros dançam. Homem e mulher ao centro, sincronia tão singela quanto o céu e nuvem. Combinar sereno que arranca o sorriso dele, dela, duns tantos
que se encontram lá naquela mistura de amor e liberdade. Ah, mas move logo
esses pés, acompanha com palmas, vem junto a nós, cabe sempre outro, precisamos
sempre doutro.
Pois não é que quando a festa
acabou, resolveram sair dali para uma praia de Luanda. As luzes da cidade ainda
estavam acesas e tudo se encontrava em um intenso silêncio: “pede música isso aqui”.
O rapaz disse, enquanto cantarolava o ritmo de um semba, dança típica angolana.
A moça riu e ele lhe estendeu a mão. “A noite ainda não acabou”. Resolveu
dizer, enquanto a puxava para si e iniciava, sob o seu comando musical, a
coreografia.
Juntos, dançaram de olhos fechados, guiados pelo combinar
do silêncio com o canto. As ondas lhes molhavam os pés e, descalços,
deixavam-se seguir ao ritmo do ir e vir das ondas. Até que, enfim, a lua deu
lugar ao sol e eles resolveram se sentar sobre a areia para admirar o nascer daquele
que tinha sempre o prazer de um novo recomeçar.
Dormiram sobre grãos e sonharam com a música das
estrelas. A noite sempre lhes reservava os mais lindos tambores.
Angola: Kizomba