quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Albânia: Marshallah, Marshallah


O sol, a grama, as árvores e o grande lago. As montanhas reservavam uma paisagem mística, que parecia comprovar todas as superstições daquele povo. Com crenças diversas, os albaneses se guiavam por estrelas, lendas e religiões. Os dois irmãos não eram diferentes. Saíam para caçar em todas as manhãs, já preparados para a longa caminhada.
Conversavam daquele jeito que adolescentes fazem. Falavam sobre a menina desejada, a mesma que os ignoravam. Mas ainda assim fantasiavam sobre as possibilidades. “E então, você vai falar com ela?” No pequeno vilarejo, as possibilidades de entretenimento não eram lá relevantes, contrastavam com as opções das cidades.
Quando voltavam, ao anoitecer, por vezes encontravam com outros que também retornavam de seus afazeres. “Marshallah, Marshallah.” Todos diziam. Os irmãos com os animais capturados, os outros, com as suas posses. Colocavam as mãos na frente dos olhos e repetiam as duas palavras, que serviam para livrar a todos do olho maldito. E ao chegarem em casa, um brinquedo de pelúcia já os aguardava do lado de fora, pregado próximo à porta. Pelas tradições, o objeto os livraria de todo o mal trazido pelo olho. Era comum encontrar brinquedos do lado de fora das casas dos albanianos. Fosse a pessoa católica ou muçulmana: acreditaria.
A chuva fraca não serviu de pretexto para que ficassem em casa ao amanhecer. Calçaram as botas e saíram animados, antes que o sol pudesse correr mais um pouco para sair. Ao apontarem no topo da montanha, viram a paisagem mais preciosa que conheciam: Albânia acordando. Era um espetáculo incrível, a mistura de cores no céu, assim como o verde sem fim. O país era desses que tinha uma natureza maravilhosa, mas que também reservava cidades com muitas belezas.
Pois antes que pudessem fazer qualquer comentário, veio a surpresa: Uma criatura voadora apareceu bem diante de seus olhos e brilhava tanto, que competia com o amanhecer. A coloração azul clara parecia ofuscar todo o alaranjado trazido pelos raios. Seus cabelos eram enormes, e flutuavam, assim como todo o pequeno corpo.
“Adnan e Luan...”
Disse, chamando-os pelo nome e fazendo com que um deles derrubasse a arma de caça sem querer, tamanho foi o susto causado. Quem seria ela? Perguntavam-se. Mas o que queriam saber mesmo era como aquele ser os conhecia.
“Eu sou uma fada e quero os dois.”
O mais velho, Adnan, apaixonado, não podia dividir a glória com o irmão e desafiou-a a escolher um dos dois.
“Ora... Escolho um pela bravura e o outro pela beleza.”
Não satisfeito, Adnan pegou a sua arma e atirou em seu irmão, não pensando direito no que fazia. Sabia que Luan era o mais bonito de todos, por ser o adorado da família. Não podia dividi-la, aquela fada era a criatura mais encantadora que já vira na vida.
“Pois agora você só tem aquele que possui a bravura.”
Resolveu levar a fada para casa, ainda encantado com o brilho tão espetacular e a voz doce que possuía. Ao chegar, a mãe estranhou o ser e ao contrário dos dois irmãos, não se impressionou com qualquer das características da criatura. “Onde está Luan?” Foi a pergunta que fez, enquanto Adnan ficava quieto, sem saber o que dizer. A mãe, percebendo o que acontecera, amaldiçoou a fada e às montanhas para todo o sempre.

As montanhas dos Balcãs agora permanecem indecifráveis. Misteriosas, são por vezes exploradas pelos mais corajosos aventureiros. Alguns vez ou outra chegam a avistar um brilho azul, mas jamais estiveram perto o suficiente para saber do que se tratava.  

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