O sol, a grama, as árvores e o grande lago. As
montanhas reservavam uma paisagem mística, que parecia comprovar todas as
superstições daquele povo. Com crenças diversas, os albaneses se guiavam por
estrelas, lendas e religiões. Os dois irmãos não eram diferentes. Saíam para
caçar em todas as manhãs, já preparados para a longa caminhada.
Conversavam daquele jeito que adolescentes fazem.
Falavam sobre a menina desejada, a mesma que os ignoravam. Mas ainda assim
fantasiavam sobre as possibilidades. “E então, você vai falar com ela?” No
pequeno vilarejo, as possibilidades de entretenimento não eram lá relevantes,
contrastavam com as opções das cidades.
Quando voltavam, ao anoitecer, por vezes encontravam
com outros que também retornavam de seus afazeres. “Marshallah, Marshallah.”
Todos diziam. Os irmãos com os animais capturados, os outros, com as suas
posses. Colocavam as mãos na frente dos olhos e repetiam as duas palavras, que serviam
para livrar a todos do olho maldito. E ao chegarem em casa, um brinquedo de
pelúcia já os aguardava do lado de fora, pregado próximo à porta. Pelas
tradições, o objeto os livraria de todo o mal trazido pelo olho. Era comum
encontrar brinquedos do lado de fora das casas dos albanianos. Fosse a pessoa
católica ou muçulmana: acreditaria.
A chuva fraca não serviu de pretexto para que
ficassem em casa ao amanhecer. Calçaram as botas e saíram animados, antes que o
sol pudesse correr mais um pouco para sair. Ao apontarem no topo da montanha,
viram a paisagem mais preciosa que conheciam: Albânia acordando. Era um espetáculo
incrível, a mistura de cores no céu, assim como o verde sem fim. O país era
desses que tinha uma natureza maravilhosa, mas que também reservava cidades com
muitas belezas.
Pois antes que pudessem fazer qualquer comentário,
veio a surpresa: Uma criatura voadora apareceu bem diante de seus olhos e
brilhava tanto, que competia com o amanhecer. A coloração azul clara parecia
ofuscar todo o alaranjado trazido pelos raios. Seus cabelos eram enormes, e
flutuavam, assim como todo o pequeno corpo.
“Adnan e Luan...”
Disse, chamando-os pelo nome e fazendo com que um
deles derrubasse a arma de caça sem querer, tamanho foi o susto causado. Quem
seria ela? Perguntavam-se. Mas o que queriam saber mesmo era como aquele ser os
conhecia.
“Eu sou uma fada e quero os dois.”
O mais velho, Adnan, apaixonado, não podia dividir
a glória com o irmão e desafiou-a a escolher um dos dois.
“Ora... Escolho um pela bravura e o outro pela
beleza.”
Não satisfeito, Adnan pegou a sua arma e atirou em
seu irmão, não pensando direito no que fazia. Sabia que Luan era o mais bonito
de todos, por ser o adorado da família. Não podia dividi-la, aquela fada era a
criatura mais encantadora que já vira na vida.
“Pois agora você só tem aquele que possui a
bravura.”
Resolveu levar a fada para casa, ainda encantado
com o brilho tão espetacular e a voz doce que possuía. Ao chegar, a mãe
estranhou o ser e ao contrário dos dois irmãos, não se impressionou
com qualquer das características da criatura. “Onde está Luan?” Foi a pergunta
que fez, enquanto Adnan ficava quieto, sem saber o que dizer. A mãe, percebendo
o que acontecera, amaldiçoou a fada e às montanhas para todo o sempre.
As montanhas dos Balcãs agora permanecem
indecifráveis. Misteriosas, são por vezes exploradas pelos mais corajosos
aventureiros. Alguns vez ou outra chegam a avistar um brilho azul, mas jamais estiveram perto o suficiente para saber do que se tratava.
Albânia: Marshallah, Marshallah