quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Argentina: O Gaúcho


Do casamento de europeus, índios e africanos, nasce o guardião da coragem. Equipado com um único cavalo, o seu maior bem, ele corre por grandes distâncias, bravamente, pronto a lutar. Pois um desses solitários, montado num animal negro, cansou-se das intermináveis andanças e resolveu passar por um restaurante com uma boa carne. “Um churrasco, por favor, e vinho!”
O garçom, meio desengonçado diante do dia movimentado, trouxe-lhe aquilo tudo meio que se desculpando pela falta de jeito e demora. O cavaleiro, ao invés de lhe tranquilizar, dirigiu-lhe apenas um olhar de impaciência, um ar de alguém que tinha visto muita desgraça naquelas milhas percorridas. Herói de guerra, o homem estava marcado com as heranças da morte dos que se desfizeram diante de seus olhos.
“Senhor, teremos um espetáculo de dança nessa noite. Vim avisá-lo para caso queira esperar.”
O gaúcho tomou uma golada do bom vinho e afirmou que ficaria sim, não tinha lá horas marcadas. Os caminhos podiam esperá-lo, porque continuariam ali.
E quando viu, estava absorto. Uma moça dançava lindamente com outro rapaz. Ambos se olhavam e se tocavam, em movimentos, de forma a demonstrar o grande amor. “Estão apaixonados?” O gaúcho perguntou para o homem ao seu lado. O vizinho disse que apenas se tratava de arte. Arte? Ora, não conhecia bem esse termo. Para ele a vida se resumia à força interior. A beleza estava reservada para os campos e não humanos.
“Eu posso dançar?” Perguntou, animado. “Fique à vontade.” O outro respondeu, com a mesma antipatia antes dirigida pelo gaúcho ao garçom. O guardião, então, levantou-se e resolveu puxar uma daquelas moças. Foi um tremendo desastre. Alguns lhes apontavam, riam, embora eles não lá percebessem, por estarem ocupados demais com a companhia um do outro. E ao fim do ritmo animado, o gaúcho sorriu e pensou que levaria aquela música para sempre no coração.
Vez ou outra, quando o vento lhe tocava a face fortemente em suas viagens a cavalo, sentia uma liberdade tão grande... Mas nada é tão livre quanto o movimentar dos pés ao som de uma melodia. Ele sabia disso, por se lembrar da dança ao olhar para as árvores que balançavam.

0 comentários:

Postar um comentário